sexta-feira, junho 09, 2006

CONTINENTE CASADOS em "O Despertar"

Véspera de fim de semana, leio no Carapuceiro a mensagem daqueles, que solteiros, não perdem tempo com o tempo. Não haverá nunca mais este imperativo cronológico. Sinapses. Tudo que pulula aqui, esvai-se ali. Leio a bebedeira do solteiro ao acordar, visão turva, camadas etílicas ainda separam, horas depois, a cama da sensação de ali estar esparramado, e o corpo daquela que acorda (quem?) e ainda que ronque parece sinuoso, faceiro. Aquela doce camada de ilusão no dia seguinte. A ressaca e o amor passageiro. Na quinta-feira - o dia do esquenta. Etéreo.

Pois é.

Daqui, apenas leio. Vida de casada são outros quinhentos.
Não que se possa definir uma regra, um estado de ordem,
como quando se está solteiro. Por exemplo: quinta-feira,
o dia do esquenta. É. Os solteiros podem contar com esta regra.
Será assim. Se não houver apetite, toma mais uma. Se não
houver opção, toma mais uma. E assim vai. Acabam
sempre confirmando a regra do amor no dia do esquenta.
Não importa com quem e por quanto tempo.

Pois é.

Aqui, no continente CASADOS, o poder é descentralizado e a onírica companhia acorda todos os dias ao seu lado. Logo, mesmo a camada de ilusão no dia seguinte da bebedeira está muito bem treinada a não confundir a identidade d'aquele corpo ao meu lado. O segundo de anonimato que empresta ao despertar dos solteiros aquele aspecto de dúvida e descoberta. Acaba. Pois o cinema do amor, que dizem os solteiros, ser uma questão de olhar, passa a ser o cinema do EU mesmo e narro.

Por maior que tenha sido a bebedeira, nem a camada etílica cobrindo meus olhos pode me fazer esquecer quem está ao meu lado. E sabendo. Sabe-se também que aquele corpanzil chamado de minha cara metade no continente CASADOS, hoje não está para levantar-se dali melado. Portanto. Enrosco-me mesmo assim no corpo inerte e insisto, pois conheço o reduzido grau de resistência de minha cara metade. Ela, segura seu pau ainda infantilizado e preguiçoso. Eu, desço com a clara intenção de torná-lo adulto. E ali, abocanho com amor a criança recém nascida. Molinha, desprotegida. Vem a mim recordações muito antigas, que jamais poderia ter em outra circunstância, e revivo meus primeiros anos de vida focando meu interesse principalmente na maneira com a qual eu chupava meus primeiros objetos. O lençol. A fralda. A blusinha de tricô. O bico do peito. E posteriormente, a chupeta. Assim, neste processo de regressão, o cinema do EU (na forma de amor difundida neste continente CASADOS) transforma-se momentaneamente numa Ode DADAÍSTA. Gugu dada. Da-dá Gugu. Até que aquele atrevido nenenzinho resolve crescer enrijecendo assim seus músculos e eu, já tendo experimentado por tempo suficiente as sensações dos primeiros momentos de vida, subo nele cavalgando lentamente. Passos vagarosos. Assim. Tal qual um Minotauro. Homem/Mulher ainda quadrúpede, metade cavala metade fêmea mistificada. E ele, já evoluído em seu cinema do EU, usa as mãos! Sim. Enquanto eu ainda experimento a forma quadrúpede, ele, bípede, já sabe sobreviver por si só, buscando alimento com suas próprias mãos. E assim, levou-as a minha flor em flor, tal qual uma catléia roxa avermelhada e abriu minhas pétalas. Com sabedoria e destreza. Para não cortar o mood. Não interromper abruptamente a trilha, tal qual um filme assexuado de Godard. Então, abriu-me. Desvendou-me. Eu por cima, tendo o corpo inteiro e a cabeça submersos nas profundezas dos lençóis. Começamos. Um, dois, três. Cavalgávamos. Até que o ar nas profundezas me foi insuficiente e arranquei o lençol tornando-me finalmente uma bípede ainda que acéfala. A luz do dia rasgou minha retina. Meus Deus, não! Esta clarividência ameaça meu processo criativo, botando em risco o meu cinema do EU -onde o filme é o próprio processo! Então joguei o corpanzil de meu HOMO-SAPIENS por cima do meu. E assim foi.
Até melarmo-nos completamente com a força-raíz do Universo e experimentarmos as diferentes conjunturas cósmicas desenhadas no espaço bidimensional de nossa cama KING SIZE.

Vida de CASADO não é vida de solteiro. É outra cousa...

para ler o despertar dos solteiros, consulte o blog de Xico Sá : http://carapuceiro.zip.net

em seguida, não esqueça: RESPIRE!