sexta-feira, fevereiro 16, 2007

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Conversa inesperada com personagem perdido

O que fazer?

Mandar um currículo puxa-saco para um Monster expoente da cena audiovisual contemporânea que está casualmente no Brasil neste exato momento em que perco meu tempo escrevendo neste obtuso e desconhecido blog? Continuar essa ensandecida atividade que consiste em escrever estórias anônimas para outros anônimos internautas que nunca cruzarei em lugar nenhum?

Hum...

É...

Bom...

Talvez...

Não...

Sim!


Olá amigos,
Estou aqui novamente ( deixe-me ver... o último post data de ...hiiiii).
Não tenho o que dizer, mas deixe-me ver.... O tempo está nublado. O Prédio logo a minha direita parece esvaecer em seu amarelo desbotado tipo lavado e poluído. O outro ao seu lado, prefiro nem comentar. Está marrom carbonizado: gazes urbanos manifestos. Vejo também um anúncio gigantesco falando-me da importância do numero 0800 505050 705, parece que esta aí a porta inaugural do meu prospero futuro (mesmo que eu não mande curriculum nenhum). Ouço carros, caminhões e ônibus ( mas agora, um minuto, fecharei a janela). No estúdio, estão todos voltados para suas telas eletrônicas. O cotidiano está excitante, os projetos não param de pipocar, as telas azuis piscam, o meu vizinho cantarola.

_ HELENA!!!!!!???!!!!


Nada. Ninguém me atende. Balanço a cabeça no estilo indiano, para lá e para cá, repetitivamente. Nem um ruído sequer.


_ HELENA!!!!!!!!!!!

O ano passado, Helena me perseguia constantemente. Não reclamo, Heleninha, só estou dizendo “desculpa, não deveria ter sumido tanto assim..... mandando todos esses curriculums e tal.... desculpa...” Ela é braba. Continua calada.


_ helena...

Mudar de tom. ( ela é macho, melhor não concorrer. Ser dócil).

_ Sabe, semana que vem é carnaval. Carnaval!! Huu! Vou pro Rio, ver a Mari e esse povo todo... legal, né? Faz séculos que eu tô desaparecida de lá...

_ Até parece que mudou alguma coisa pra alguém!

Espanto.

_ Helena? Is that you?

_ Não. Não sou eu, tatu.

_ Porra... tua voz engrossou a vera...

_ Pois é, o fumo constrói e o fumo destrói.

_ E aí, tens feito o quê?

_ Nada de mais.

_ E a Minalva, cadê?

_ Aquela vaca?

_ Bom...

_ Com esse nome, difícil tê duas.() Ta por ai na vida, com algum desesperado por sexo oral. Ela é boa nisso, cê sabe.

_É. ( abaixei a cabeça, como que saudosa) Ela ta com o Flavio?

_ Sabe que eu nem sei... Não tenho tido noticias desse pessoal do Espelho d’ água.

Bocejo. Nunca poderia imaginar que nossa relação autor-personagem pudesse se transformar em algo tão ordinário. O Espelho d’ água é o nome do roteiro que escrevi no qual Helena seria a grande estrela, seguida por Minalva, aquela putinha de luxo fazendo um gênero “ transcendental”. O Flávio era o boboca da estória, mas sem ele, o roteiro não tinha estrutura. Ele dava a liga. No bom e no mal sentido. Era o ponto de convergência.

_ Porra! A gente nem passou para a segunda fase...

_ Do quê?

_ Do concurso.

_ Ah vai! Até parece que alguém decentemente criativo emplaca de primeira na categoria roteiro!

_ Cê acha?

_ Sure! Vê se amanhã começa a pegar no trampo de novo. Quero meu lugar ao sol, senão desapareço de vez.

_ Num faz isso, helena. Sem você, eu sou só eu mesma. Que nóia!

_ Então escreve, vagabunda!

Helena fechou a porta do meu córtex, soltando um peido antes de sair. Completamente.